Vida fria, memória quente

Uma noite fria, mas com um céu aberto, lindo, que podia contar com muitas estrelas e uma lua quase cheia para estampar seu infinito negro.

Um restaurante com cara de europeu, com cara de bom, com cara de romance, encravado numa montanha, de onde podíamos ver o mar beijando o tal céu.

Você... Lindo, com a sua cara de menino perdido, com seu charme, com seu perfume inconfundível, com esse olhar de cafajeste que só eu conheço.

Eu, com meu melhor vestido, meu cabelo voando (eu sei que você adora), batom vermelho. Nervosa, ansiosa, exuberante dentro de toda a insegurança que me perseguia.

Um ótimo vinho, um eloqüente fondue, um papo delicioso. Até agora não sei se os meus risos eram de alegria ou de nervosismo, também nem quero saber. Assim como não sei se a sua calma era natural ou emprestada pelo vinho, não interessa. Prefiro me lembrar dos carinhos no cabelo, da sua mão aquecendo a minha (que, a essa altura, já lembrava uma pedra de gelo de tão fria), do seu olhar dentro dos meus olhos – tão dentro que pareciam estar passeando dentro da minha cabeça, analisando cuidadosamente tudo o que se passava nela – mas, principalmente, prefiro me lembrar do beijo. Ah, o beijo. Tão doce quanto a sobremesa, tão saboroso quanto o jantar, tão molhado quanto o vinho, tão sexy quanto eu me sentia naquela noite. O que veio depois foi ainda mais gostoso, mais doce, mais quente, mais molhado e, definitivamente, muito mais sexy, mas eu prefiro guardar esse segredo só pra mim, deixar esse filme guardado na minha videoteca particular, tal qual uma colecionadora ciumenta – colecionadora de um filme só.

Assim como as marcas que ficaram em mim, por dentro e por fora, você também sumiu, e deixou aquela noite como herança de algo que poderia ser o melhor da vida, mas nunca passou dali. Não reclamo, não. Talvez tivéssemos estragado toda a magia daquela noite em discussões sem sentido, motivadas por nada, ou com o peso de uma rotina insossa e sem o vermelho vibrante daquele vinho, que coloriu nossa noite, que coloriu pra sempre minhas lembranças. Melhor assim.

Ainda te procuro por aí, confesso. Mas rezo pra não achar nunca. Prefiro a nossa noite sozinha na memória do que qualquer outra coisa que a suje. Por isso, te imploro: não me procure, não apareça, nunca. Deixe-me com a nossa noite, nós somos felizes juntas como eu jamais serei ao lado de alguém.

4 comentários:

Anônimo disse...

Hummmm acho que precisamos por o papo em dia... aparece no msn? aheauheauehue Beijos!!! E da-lhe 15 de agostooooooooo!!!

Eve disse...

Puxa... só agora consigo comentar.
Texto bonito.
É como na história de Romeu e Julieta. Pq o amor deles foi lindo? Pq não foi vivido, pq nao passaram pela rotina, pelas manias de cada um.
Às vezes é melhor assim. Só as lembranças...

Andre Viegas disse...

Eu tb só pude olhar com calma agora... muito bonito, denso, intenso e... bem, vc sabe.

Beijos!

Aline disse...

Obrigada pelos elogios, queridos. Fico feliz que tenham gostado!

Beijos a todos.

Acabou. Boa sorte!

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