Sem pé, nem cabeça, muito menos sentido

Eu liguei o foda-se, sim. Mas não liguei completo, é fato. Eu não consigo ligar o foda-se a 100% se não puder falar o que quero, pra quem quero e quando quero. Aí leio textos que gritam "FODA-SE!" e fico me roendo por dentro, querendo fazer igual, e não consigo, simplesmente travo. Dá tilt na máquina, nem Ctrl+Alt+Del adianta, só o reset button faz andar de novo. E quando se aperta o Reset, nada foi salvo.

Ah, as linhas tênues que separam a genialidade da loucura, o ser encantadora do ser imbecil, a mágica do ilusionismo, o ar blasée da tristeza sem graça. Há quem não as veja, as tais linhas - eu gostaria de não vê-las ou, ao menos, de não criá-las dentro da minha cabeça torta e tão pensante. Eu crio linhas, limites e divisas em tudo, sempre móveis e diminuindo meu espaço. As minhas linhas tênues são mais fortes do que as divisas pintadas em vermelho no Mapa Mundi, são mais limítrofes do que a calça strech que eu adoro, são mais opressoras do que a religião. Mas eu invento as linhas e acabo cruzando-as, dançando em cima delas e, quando dou por mim, sapateei tudo ali e caguei a merda toda. Pior: as tais linhas tênues existem, de fato - mas estas eu nunca sei onde estão. E ninguém me mostra as desgraçadas.

Eu quero ligar o foda-se pras linhas tênues. Eu quero ligar o foda-se e falar, falar, falar - mas dizendo alguma coisa, sim, não falar à toa. Eu quero sair na chuva e molhar o cabelo escovado, sair no sol toda de preto e me perder por aí. Eu quero mandar algumas pessoas à merda e quero que outras saibam o quanto eu nunca as mandaria à merda. Eu juro que tento, mesmo que com ajuda externa, mas não consigo. Neste exato momento, acho que preferia ser internada como louca do que ser tão contida, porque os loucos, ao menos, são livres. Eu não sou, porque sou a carcereira de mim mesma - e sou muito rígida com meus detentos.

Eu sou capaz de loucuras planejadas e planos concretos completamente insanos, mas só dentro da minha cabeça. Quando eles precisam ser postos em prática, sempre tem um revisor da Censura que corta a parte mais divertida deles, bem como fizeram com "O que será (à flor da terra)", que ficou muito com muito menos graça na versão "à flor da pele". Eu preciso ser mais insana e mais odiada, pra poder ter mais paz e ser mais amada. Eu quero desesperadamente ser entendida, mas não explico nada. Eu quero mais, mas não sei muito bem do quê - ou até sei, mas não admito nem pra mim mesma. Eu quero, mas não sei bem como querer ou como fazer pra ter o que quero. E isso ninguém ensina.

"O que será? Que será?
Que todos os avisos
Não vão evitar
Porque todos os risos
Vão desafiar
Porque todos os sinos
Irão repicar
Porque todos os hinos
Irão consagrar
E todos os meninos
Vão desembestar
E todos os destinos
Irão se encontrar
E mesmo padre eterno
Que nunca foi lá
Olhando aquele inferno
Vai abençoar!
O que não tem governo
Nem nunca terá!
O que não tem vergonha
Nem nunca terá!
O que não tem juízo..."

Chico Buarque & Milton Nascimento, O que será (a flor da terra)

3 comentários:

Anônimo disse...

"Eu quero desesperadamente ser entendida, mas não explico nada."

Perfeito. Essa sou eu...tb.

Anônimo disse...

"Neste exato momento, acho que preferia ser internada como louca do que ser tão contida, porque os loucos, ao menos, são livres."

Esse sou eu, também.. Perfeito.

Cada visita que faço por aqui, é um prazer.

Bjos.

A Outra disse...

entendi??
entendi nada.
mentira! eu sempre te entendo, minha flor.

bjssss

Acabou. Boa sorte!

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