As doces ruínas dos textos nunca publicados

Sentei aqui com várias idéias de textos diferentes: sobre meu trabalho, sobre o quanto o cheiro das pessoas e das coisas influencia e marca, sobre a eterna incerteza que vivemos quanto ao amanhã. Pra cada uma dessas idéias havia um texto completo na cabeça, mentalmente redigido (e revisado, inclusive), cheio de nuances, com seriedade e divagações mil, um texto para cada assunto, pá. Certinho.

Sentei aqui, cumpri a rotina mínima - ler meus e-mails, já que são quase duas da manhã e preciso dormir - a fim de começar a escrever, já pensando em qual dos assuntos seria o primeiro a ser trazido à baila. Nada de novo nas mensagens, vamos ao que interessa: vamos deixar as palavras sairem como crianças quando saem do colégio, alegres, cheias de liberdade e rindo de qualquer coisa, numa inocência e felicidade ímpares. "Vou abrir essa gaiola e deixá-las voar como passarinhos voltando pra casa", pensei. Pronto, vamos.

Quando estalo os dedos a fim de começar, a música toca. É raro tocar uma música assim na rádio daqui, uma que mexa tanto comigo, uma que eu deseje tanto viver, uma que eu queira tanto cantar pra alguém - e, olha, já tem até pra quem cantar, ao menos dentro dessa cabecinha que, há menos de um minuto, fervilhava de novas idéias não-românticas - uma música que descreva o que um dia espero que seja nossa história, nosso dia-a-dia, tão doce e inocente quanto teu sorriso, tão infantil e carinhosa quanto meus olhos quando estão te fitando, te admirando, te medindo, te decorando, cada pedacinho.

Não ouço nenhuma das músicas que vem depois - fiquei surda ouvindo a tal ressoando dentro da minha cabeça, viajando no que serão (?) as cenas dos próximos capítulos. Ainda estou entorpecida por essa droga poderosa que é a canção, que causa uma onda de imaginação divina, faz a gente sorrir sem ter porquê. Sorrio como as palavras o fariam quando saíssem da minha cabeça - mas aquelas só vão ganhar liberdade outro dia, quando a onda tiver passado. Sinto muito, queridas, mas essa noite me dei o direito de sorrir, correr e ser inocente eu mesma.

Phil Collins - A ...

2 comentários:

Anônimo disse...

Nossa, que riqueza de imagens e metáforas! Quero desse entorpecente!

Aline disse...

=) O melhor é que nem custa nada, a onda é muito boa e não tem ressaca depois ;-)

Beijocas, baby.

Acabou. Boa sorte!

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