Onde estamos todos nós?

Nestes últimos dias, li diversas manifestações contrárias à atual futilidade das aparências - nada contra uma boa aparência, claro que não, mas a coisa anda plástica ao extremo, por favor! - das mais anônimas (à mídia, claro, porque ela já é famosa pelos textos divinos e ela também, além de serem duas lindas) às mais famosas (como a citada pela minha amiga no post de hoje). Fico feliz, é claro. Mas imediatamente me peguei pensando no seguinte: onde estamos nós, os que pensam e não querem só as frutas e, principalmente, as cascas delas?!

Nós estamos aqui. Anônimos ou famosos, lindos ou feios (aos olhos plásticos, que fique claro), sempre inteligentes e muito, muito interessantes. Nós estamos nas ruas, nas casas, nos restaurantes, nos cinemas e nas boates. Nós chamamos a atenção sempre, podem ter certeza - mas quase nenhum outro ser nos chama a atenção, já que dela só usufruiu quem tem mais a mostrar do que um corpo perfeito e um rosto esculpido em Carrara. E é aí que mora o problema - porque nos divertimos e entretemos com estes, mas sempre procuramos por aqueles e dificilmente conseguimos achá-los, já que a vida hoje corre muito mais do que anda - porque atenção total nunca conseguimos dar a quem não nos desperte algo mais do que um tesão animalesco.

Você beija o carinha lindo na boate, ele beija a mulher gostosa que conheceu numa festa. Vão até o fim, porque está instintivamente bom. E depois? Há algo depois que não seja uma pergunta óbvia e ridícula ou um questionamento sobre meios de transporte para a casa de um ou outro? Há algum sorriso que não seja de simpatia? Se vocês tiverem dado sorte, haverá algo mais, sim, mas a regra é que seja tudo muito mecânico, normal e chato. Muito chato. E aí o vazio que nos consome é engolidor como um buraco negro voraz, que nos leva pro escuro e ainda joga na cara que não há nada ali.

Eu não gosto de coisas chatas, gosto de rir e de fazer rir. Meu sorriso é meu cartão de visitas, e quando ele some, não sou mais eu - ao menos quando some por chatice e não uma tristeza contundente e cheia de razão, estas a gente perdoa e ainda chama pra um café, de vez em quando, porque são parte de nós - e eu deixo de estar presente, de alguma maneira. Mesmo que o corpo reaja ou mesmo que aquele meu corpo ache bom, não sou mais eu quem habito aquele lugar. Eu quero mais, eu quero rir depois, eu quero ouvir e falar besteiras e fazer piadas; eu quero, acima de tudo, sorrir. Quero ter vergonha e ter orgulho, quero ficar quieta e fazer bagunça, quero ser eu mesma, sempre. E só quem me faça ser assim me terá por inteiro, mesmo que numa única noite. De resto, tiveram uma casca, um invólucro, um plástico, uma embalagem. E não sou mais criança pra gostar mais de papel de presente ao invés do que veio embrulhado nele.

9 comentários:

Taynar disse...

Nossa Senhora!
Nem sei por onde começo.
Primeiro, obrigada a citação, vindo de ti, me senti muito elogiada. Creia-me

Agora eu me perdi completamente no que eu ia comentar. Sabe como é, emails bombantes!
hahahahah

Quando a minha cabeça voltar, eu posto algo decente. Eu JURO!!!

Beijos

Unknown disse...

Estou aqui, aguardando o próximo elemento chave do ambiente que levará a um pulso/impulso resposta dentro de mim. Acontece sempre. Agora, você lê. Então posso dizer que estou no link acima, em fonte Georgia, tamanho normal, e cor vermelha.
Antes, eu estava perdida entre pulsos e mais pulsos dentro de mim mesma. Fechada na caixa comportamental da sociedade. E não são todos assim? E não sofremos todos intervenções cirúrgicas diárias em nossos núcleos? E nesse mundo, não houve Segundo Impacto. Nesse mundo, não há quem se disponha a ignorar o padrão para estudar o indivíduo e seu motor.
É nesse mundo de hoje, nesse grande Mar de Dirac, que encontramos pulsos e mais pulsos desconexos, como o seu, como o meu. Pulsos presos na escuridão, lacrados no Magi social.
Nesse mundo, a Lua Negra não nascerá para nos reunir e nos fazer inteiros novamente. Nesse mundo, nós só podemos pulsar em Dirac. Escondidos e no escuro. E todos os dias, acordar para um novo AT Field de nós mesmos.

E você não entendeu nada porque não é fã de anime. haha
Beijo

A Outra disse...

clap clap clap

cada vez fico mais sua fã, menina linda.
qtos estados vc precisa visitar mesmo? heheheh

onde eu assino?

bjss, amore.

Garotas de Vinte e Poucos disse...

Abaixo as frutas!!!
Bjo
*lala*

Homem do Cafezinho disse...

Faz pouco tempo que freqüento a Casa, mas já virei habitué...

Acho que o grande problema é estarmos todos nós (as pessoas interessantes e que procuram mais do que casca) metidos nessa blogosfera que nos faz achar que o mundo é menor do que ele é. Mas talvez ele realmente o seja, afinal nada nos impede de rumar para outras pairagens!!!

Quem sabe é exatamente isso que precisamos, de uma blogosfera que seja em terceira dimensão, tangível e tocável. Algum lugar onde possamos nos encontrar pessoalmente e cumprimentarmos uns aos outros com um belo abraço!!!!

PS.: Fiquei com ciúme do Sacamano e fiz um post pseudo-intelectualóide que nada quer dizer :P

Renata disse...

Também quero mais! :)

Adoro o que você escreve, Line. Sempre.

:***

Danielle Balata disse...

Eitaa...


:O assim que to com seus textos..

Sou fã!


Beijos

Brandão disse...

O problema é que de cara é difícil você se aproximar de uma pessoa pelo que você, vivemos em uma era visual e eu li isso em um blog outro dia, ou seja se o seu visual não agrada não adianta você se aproximar de alguém mesmo que você seja a alma gêmea dessa pessa, que você goste de tudo que ela goste, etc... Isso, lógicamente não serve para todos. Mas sinto isso na maioria dos casos.

Taynar disse...

Tá, agora sim voltei pra comentar algo decente.
Onde estamos? Eu realmente não sei.
Mas sei que eu não gosto de viver num lugar onde a cor do meu cabelo, ou o preço do meu carro sejam mais importantes do que o que eu trago comigo, do que minha mente pensa e minha boca cala.
Eu quero rir, chorar e me despentar. Quero o animal e o sentimental. Misturado, embolado, tudo junto.
Quero mais que a pele, mas ainda muito a pele. Quero o que vem dentro, o que compõe, o que afasta e seduz.
Acho tão triste, tão pouco, quando o que se vê é a única coisa que se tem.
Não vou dizer que quero sempre o feio, mas eu realmente quero mais.

Texto excelente, como sempre.

Beijos, mulher

Acabou. Boa sorte!

Em pleno 2020, em plena pandemia, em um momento onde a maioria está passando por uma mudança radical em suas vidas, resolvi voltar aqui e s...