But still they lead me back to the long winding road

Andando pela estrada vazia, encontrei uma moça - adolescente, de uns 15 anos - que chorava. Muito. Chorava tanto que parei para perguntar se ela precisava de ajuda, e ela me disse que ninguém poderia ajudá-la, porque alguém havia destroçado seu coração. Tentei disfarçar meu sorriso trazido pelo pensamento "ah, ela só está apaixonada e desiludida, ainda não viu nada da vida", passei a mão em sua cabeça e desejei-lhe sorte. Ela tentou agradecer, mas provavelmente teve ódio de mim naquele momento.

Mais adiante, deparei-me com uma menina de uns sete, oito anos, que brincava com sua boneca e seus apetrechos: roupas, um carro, bolsas e sapatos mil. Parei perto dela pra observar por alguns minutos: ela falava como se fosse a boneca - uma mulher esguia, adulta - e colocava a boneca no carro e dizia "agora vou ao shopping comprar umas bolsas, vou ao salão, vou ao cinema e depois compro um monte de doces pra comer em casa". A menina estava tão entretida que nem me viu perto, e saí de lá antes que ela pudesse perceber minha presença, levando comigo a inocência quanto ao futuro que aquela menina me deu de presente.

Alguns quilômetros depois, estava uma senhora muito bonita, mas que não escondia a idade e a vida que trazia dentro de si. Usava um vestido longo vermelho, uma sandália, tinha os cabelos bem arrumados e as unhas bem feitas. Sorria enquanto ouvia um rádio tocando alguma música animada, que a fazia fechar os olhos e balançar a cabeça como quem dança. Tinha as feições tranquilas, porém marcadas com os fatos que, presumo eu, deve ter vivido - tanto os bons quanto os ruins. A música mudou e sua expressão, idem: de repente ficou séria, quase triste, mas logo olhou para o céu como quem suplica pelo fim de uma dor e tentou sorrir de novo. Quando passei por ela, me convidou a sentar ao seu lado e ouvir um pouco de música, "até mesmo falarmos algumas besteiras e rirmos um pouco!", ela disse. Agradeci sorrindo e pedi que me desculpasse, mas eu tinha pressa e não poderia parar naquele momento, mas dela eu já havia tirado o quanto podia.

Andando pela estrada vazia, me perdi. Sigo em frente tentando achar meu caminho, mas não sei como chego (ou se chego) ao fim dela - pra dizer a verdade, não sei se a tal estrada tem fim. Também não me importa. Contanto que eu ande, me perca, me encontre e não pare, mesmo que caia muito ou me arraste por vários quilômetros e a estrada esteja lá, não me importa mesmo. Os buracos e lombadas são muitos, mas um dia a porra da estrada fica plana. Nem que eu tenha que terraplanar com a minha língua.

3 comentários:

Danielle Balata disse...

Aii Aline, que texto lindo.. =D
Adorei mesmo.. muiito bem escrito e passa uma transparencia nas palavras que agente lê com gosto.

Beijos

Sisa disse...

Eu sinto assim, como se eu sempre esbarrasse e tropeçasse em quem eu fui, mas nunca consigo nem vislumbrar quem eu vou ser. E isso às vezes é frustrante. De qualquer forma agora o momento pede que eu esteja totalmente focada no presente, o que chega a ser um alívio sob alguns aspectos.

Beijinho pra sumida. Se ganhar na Mega Sena, me convida pra passar umas férias na sua mansão, ok? Não preciso mais do que 15 dias, rs.

D.Marco disse...

Viver é assim mesmo, né não?

Acabou. Boa sorte!

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